terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Às vezes chove...


Com tantas misérias humanas dentro de nós não é de se estranhar que uma vez ou outra nos encontremos entristecidos e chorosos, com a alma assim meio para baixo e com uma sensação um tanto quanto incômoda, sem saber ao certo o que nos provoca tal e qual tristeza solitária.
Percebo em mim uma pequena solidão que por vezes me visita e deixa sua impressão tristonha. Às vezes acontece-me tal experiência aos fins de semana que não posso ir a São Paulo assistir Missa,  ou fico sem companhia, ou então quando chove.
Não sei se deveria atribuir este meu estado de espírito à chuva, sendo ela tão linda e necessária, mas não é de hoje que percebo meu espírito encolher-se dentro de mim quando uma tempestade aponta no horizonte.
Não podemos permitir que estes ânimos tristonhos que às vezes nos invadem reinem sobre nós. É preciso expulsá-los com a mesma prontidão com que penetraram em nossa alma.
Que fiquemos tristes com coisas motivadas é absolutamente normal, como a morte de alguém , uma briga ou alguma coisa ruim que nos acontece por exemplo, e seria um absurdo e até antinatural se não nos entristecêssemos nestes casos, mas quando se trata se tristezas imotivadas não podemos deixar que nosso espírito se curve a isso.  
Quando me sinto assim sempre faço leituras espirituais, buscando nas palavras de Nosso Senhor o consolo para minha alma miserável. Leio nas sagradas escrituras os conselhos e exortações do Salvador, ou então em algum santo que, inspirado pelo Espírito Santo, imprimem também muitas impressões em mim. Ou então busco refrescar meu espírito com Cantos Gregoriano e alguma música alegre de Bach ou Mozart. E quando todas estas coisas não adiantam busco ajuda na oração que é sempre consolo para as almas solitárias.
Lembro-me que quando não tinha fé experimentava também certa solidão que, mesmo estando eu no meio de muitas pessoas, me entristecia horrivelmente e me arrastava para um buraco negro de onde eu não conseguia sair. Não conhecia nenhum meio para remediar tal situação e também não procurava expulsar tal estado de espírito, por que achava "normal" que me acontecesse isso, e pensava ser falta de algo que não tinha (estar longe de meus pais, por exemplo).
Realmente era falta de algo. Mas um algo muito mais importante que meus pais e meus irmãos, sentia falta de Deus. Tanto que, quando estava perto de meus pais também me sentia triste alguma vez e era obrigada a procurar outra explicação para a solidão que me visitava.
Era assim quando não conhecia a Deus, mas depois que O conheci finalmente, muitas coisas mudaram em minha vida e meu interior passou a estar sempre preenchido de modo que eu não sentia mais nenhuma tristeza e nenhuma solidão. Meu coração estava sempre alegre e cantarolando alguma canção. Dormia a acordava pensando em Nosso Senhor, e suas palavras estavam até em meus sonhos. Nosso Senhor Jesus passou a ser a minha companhia diária, de modo que trabalhasse, estudasse ou descansasse estava Ele sempre em meus pensamentos. Experimentava de uma consolação verdadeiramente sensível que por muito tempo não me senti nem sozinha, nem triste.
Mas este estado de consolações sensíveis também passou, visto que Deus retira vez ou outra as Suas consolações para confirmar na fé as almas dos seus fiéis. Ser fiel quando o espírito está assim cheio de consolo não é tão virtuoso como quando se é fiel sempre, mesmo quando o espírito está inundado de aridez e um tanto quanto solitário. Como disse o papa Bento XVI, "ninguém é realmente maduro enquanto não experimente a própria solidão".
Importa não permitirmos que esta tristeza sem motivo nos perturbe a ponto de cedermos a ela, curvando aos seus caprichos e se entregando de modo covarde, sem nem lutar.
 É preciso resistir, mas não sozinhos, senão com a ajuda de Nosso Senhor que nos ama e nos chama à alegria da vida eterna. Ele, o Deus que alegra a nossa juventude, é quem nos puxará da nossa solidão miserável e nos sacudirá para que vejamos que não há motivo para tristeza senão aquilo que nos separa dEle.
E tendo imprimido na alma estas certezas não restará espaço para a solidão, pois que sempre nos proporemos a encher o nosso espírito em Deus. É de Nosso Senhor que vamos nos alimentar quando nada mais nos mate a fome. É nEle que vamos falar quando nada mais nos seja prazeroso comentar. É em Nosso Salvador que vamos morar quando nossa casa já não esteja habitável. É para Nosso Jesus que vamos olhar quando nada mais ao nosso redor tenha graça, e é em suas chagas, abertas por causa dos nossos pecados que vamos nos esconder quando tudo nos pareça ofensivo. É só em Cristo, pregado na Cruz por culpa nossa, que vamos achar consolo quando nada mais pareça consolável.
É para Nosso Bom Deus que devemos olhar quando tudo estiver nebuloso por causa da tempestade. Ele deve ser o Norte, para onde devemos caminhar ainda que não enxerguemos mais nada; se olharmos para Nosso Jesus saberemos para que lado seguir e os passos serão firmes e precisos novamente.
Santa Terezinha do Menino Jesus, dizia que ela era como um pintinho que às vezes se distraía com uma minhoquinha ou bichinho, mas sempre sabia que seu Sol estava lá em cima a aquecê-lo. Às  vezes acontecia de chover e o pintinho ficar assim todo molhado, tremendo de frio e quando olhava para o céu em busca de seu Sol encontrava as nuvens que o tapavam. Mas em vez de olhar para outro lado, em vez de buscar outras coisas ficava lá, imóvel com os olhos mirando o céu, pois sabia que mesmo que as nuvens escondessem o seu Sol ele estava lá atrás das nuvens.
Santa Terezinha sabia que mesmo que nossa alma esteja assim nebulosa é preciso manter os olhos firmes no Sol de onde provém a luz. Ainda que muitas nuvens limitem nossa visão e não nos permitam vÊ-lo, ainda sim Ele estará lá, pronto para nos iluminar e aquecer se não tirarmos os olhos dEle.
Lembremo-nos pois desta pequena santinha que muitas vezes se viu com a alma privada de todo o consolo e no entanto sempre estava com os olhos voltados para Deus. Lembremo-nos dela como exemplo de alma simples e pequena, mas que em sua pequenez alcançou o céu e está hoje junto do Sol que a iluminou e a guiou durante a sua breve vida.
Pode talvez parecer difícil uma vida inteira de penas e contrariedades pelas quais temos que passar, mas esta impressão desaparece quando nos lembramos que Deus que nos pede apenas o presente, que é composto por 24 horas apenas. Deus pede que vivamos o nosso hoje, mas que seja uma hora de cada vez, e esta hora que a vivamos um minuto por vez. Deus é maravilhosamente generoso conosco que nos pede um minuto por vez de nossa existência, quase que como migalhas. Ele nos pede as migalhas de nós mesmos, e ainda assim, alguma vez, nós lhE negamos.
Pensando em como é pouco o que Deus nos pede em comparação com seu enorme amor e incomensurável recompensa, encontramos coragem para lhE dar o nosso agora, e todas as horas do dia, e todos os dias de nossa existência.
Então se a solidão e a tristeza das contrariedades nos visitarem hoje lembremo-nos que o nosso hoje pertence a Deus, e é para Ele que devemos dirigir todo o nosso tempo.
In Cor Jesu et Mariae.
Lucie.


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