domingo, 16 de outubro de 2011

No Silêncio da Minha Solteirice.


 Não pretendo de maneira alguma formar juízo sobre a solteirice em geral, mas tão somente comentar sobre o silêncio que ronda a minha.
 Sou solteira desde sempre. É este o meu estado atual perante Deus, perante os homens e talvez assim seja ainda por algum pouco de tempo. Não devo reclamar do estado em que me encontro, pois seria injustiça para com Deus que me concede neste momento muitas graças. E bem verdade é que todas as mulheres devem experimentar este estado de vida antes de selarem perante Deus a união sacramental, ou então de se darem a Ele como esposas na vida religiosa. Se eu sou ainda solteira é porque Deus assim o quer, e devo me conformar com paciência.
 Seria hipocrisia dizer que não me anseia grandemente a espera por ser mãe e esposa. Sim, espero ansiosa pelo dia em que receberei o grande sacramento e darei a Nosso Senhor todos os filhos que Ele me der.
 Mais do que apenas um tempo de espera a solteirice deve ser um tempo de preparo. Assim como um bom profissional se prepara com anos de estudos para exercer bem sua profissão, assim também nós devemos nos preparar cuidadosamente para cumprir com excelência a nossa finalidade sobre a terra.
 Um bom cristão sabe para que lhe foi dado esse tempo aqui na terra: Amar a Deus e ganhar a salvação eterna, e faz muito mal quem mesmo sabendo disso desvirtua a finalidade desta tão curta vida. Como bem fala o autor da Imitação de Cristo “compara o fim para que te foi dado esta vida com o uso que dela fazes, acaso sabe se te será concedido um minuto a mais?”. Fazer bom uso da vida é obrigação dos que buscam com sinceridade a vida eterna, e não se pode dizer outra coisa do tempo que nos foi dado como solteiras.
 Talvez as leitoras solteiras concordem, e as casadas se lembrem, ou quem sabe estas coisas que estou a relatar apenas digam respeito a mim. Mas penso que não, penso que todas alguma vez experimentaram silencio tão doce e próprio de nosso estado.
 Sinto-me deixada de lado, como se ninguém fizesse questão dos meus serviços. Nenhuma voz me chama, nenhuma criança quer de mim a atenção que um filho requer. Não há barulhos pela casa, nem chorinhos durante a noite. Nenhuma preocupação relevante, nenhuma educação deixada aos meus cuidados. Nada que me tire o sono.
 Um silêncio tal que sempre me tenta a preencher com barulhos do dia a dia, com afazeres nem sempre necessários, com leituras nem sempre importantes, com conversas nem sempre relevantes, deixando assim escapar o tempo que Deus me dá para bem preparar-me como mãe.

 Devemos fugir dos barulhos que atrapalham o nosso doce silêncio. Das festas barulhentas e perigosas, das conversas impróprias, dos conselhos vãos, das músicas ruins. O silêncio que protege a solteirice pode ser comparado ao silêncio dos monges, um silêncio voltado para Deus e para as coisas de Deus. Um olhar para as coisas criadas, para as distrações lícitas com afetuoso gosto em tê-las e em sabê-las.
 Não nos é possível fugir das obrigações do dia a dia, mas é bom que realizemos todos os nossos afazeres com os olhos em Deus, sempre recitando alguma jaculatória,ou dizendo um simples “Eu Vos amo muito meu Senhor e Vos quero servir sempre”.
 Peço a Deus que me dê discernimento para bem aproveitar este tempo, não apenas aprendendo tudo o que é conveniente uma mãe saber, mas também crescer dia após dia nas virtudes e no conhecimento da sã doutrina, de modo que eu seja para meus filhos um bom exemplo.
 Que eu saiba ensinar aos meus pequenos todas as Verdades eternas e a sã Doutrina deixada por Nosso Senhor, e com exemplos eu saiba mostrar a paciência, a docilidade, a modéstia, a humildade, o espírito de pobreza, o respeito pelo próximo, e todos os valores cristãos, e mais do que isso, quero ensinar aos meus filhinhos o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e à Igreja, o amor a Nossa Santa Mãezinha e aos Santos.
 Que Deus me ajude a me preparar da melhor forma possível, porque de mim mesma eu nada posso, sozinha eu nada consigo. Que Nosso Senhor me ajude a ser uma boa mãe para os meus pequenos e que a Virgem Santíssima seja a minha companhia nesta jornada.
 Enquanto ainda temos o silêncio da solteirice, façamos, pois, bom uso dele. Leiamos bons livros, aprendamos as prendas necessárias a uma dona de casa, acumulemos virtudes, rezemos muito para que Deus nos conceda muitos filhos e nos dê forças para bem cuidar deles.
 A solteirice passa, mas convém mantermos o seu silêncio. O silêncio que sempre nos faz lembrar os nossos novíssimos. O silêncio da oração e dos exercícios de piedade. O silêncio da humildade e da modéstia. O silêncio que evita brigas. O silêncio que edifica.
 Que Nossa Senhora, que sempre foi exemplo de silêncio, nos ensine o Seu edificante silêncio. Saibamos imitá-la quando for necessário falar e quando for necessário calar.
 Que o silêncio que nos ronda seja mais que apenas falta de barulho, seja como que uma espessa neblina que nos vela do mundo e nos protege das vaidades. Que o nosso silêncio seja visto e apreciado como coisa boa, como coisa virtuosa. Sejamos nós exemplo de sobriedade silenciosa.
 No silêncio da minha solteirice é que descansam o grande desejo de ser mãe e as retas intenções cristãs.
 In Cor Jesu et Mariae,
 Lucie.





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